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Invenção
- Ricardo Pedrosa Alves
Por André Dick
O poeta Ricardo
Pedrosa Alves nasceu em Governador Valadares (MG), em 1970. É
graduado em Sociologia, pela Unicamp e, atualmente, faz mestrado em Teoria
da Literatura, na UFPR (Universidade Federal do Paraná). Seu primeiro
livro se intitula Desencantos
mínimos (São Paulo: Iluminuras, 1996) e seu segundo, Barato, escrito em
Curitiba entre 1996 e 2008, será lançado pela editora Medusa.
Também publicou poemas nas revistas Monturo (SP), Inimigo Rumor (RJ), A Cigarra (SP) e Oroboro (PR), e resenhas
no Diário Catarinense
e no Correio Braziliense.
Trabalhando com uma sonoridade e imagens inusitadas, uma das qualidades da
poesia de Ricardo está em justamente lidar com a linguagem como algo a ser
construído, reinventado, mesmo que para isso precise subverter a sintaxe e
incorporar mensagens enigmáticas, muitas vezes sem sentido verossímil. É
justamente uma espécie de “surrealismo da linguagem” – sem seguir preceitos do
movimento surrealista – que faz com que a poesia de Ricardo seja tão especial
no cenário atual da poesia brasileira.
Nos poemas de Desencantos
mínimos, Ricardo alia uma expansão do verso e uma concentração de
idéias, em poemas tanto curtos quanto mais longos. Mesmo uma observação que
poderia ser comum – sobre os olhos –, em “Nós no escuro já pós brilhos”, mostra
algo que parece revelar outro campo de linguagem: “de um modo que / quedasse
sem / blandícia / suplícios / / stella by starlight / / deu-se em nós, / mais
lume e / plena de alva. / / E lá: agora glórias / se nos afloram / diariamente?
/ / respostas com cinzas, faíscas: / em persistência entretanto nos olhos: /
melíflua medusa de solares: miles”. Ao mesmo tempo, há uma metalingüística, em
“Sempre”: “vocês podem me abandonar na estrada / em alta velocidade, / palavras
? sempre que espelhos múltiplos / embaçados / é preciso recuperar um prazer /
do espiralar um mundo de certezas / (antes que coalhem) / onde o futuro não
seja cabide rotineiro / hoje”. Mas é na última estrofe desse poema que a
metalinguagem é mesclada ao cotidiano e à linguagem do dia-a-dia: “a palavra
qualquer chegada em casa / no desconhecido dessa busca à semelhança, / quando
nau rumo do mal, / diz versos tipo nunca toquei beleza alguma” – como se o
poeta inserisse uma fala na rotina trazida do poema, na expressão
coloquial “tipo nunca toquei beleza alguma”.
Observação sobre o cotidiano, a arte e o
universo feminino
Ricardo Pedrosa Alves
transforma sensações comuns numa linguagem tão expansiva quanto controlada,
delimitada. Suas imagens são bastante raras: “cavalo de febres / espirrando
transparecendo explodindo / vidro da vida os pulmões” (em “Continuamos lindos
escorpiões”); “no calor onde o vermelho explode na língua, / a minha enfim
boca”; “daquilo que é grelo de brotação / do próprio peito / / alumbra / oscila
/ é o lume tanto quanto perfuma” (em “Agora fogo mordido”). Outro elemento é a
descrição do feminino, de maneira extremamente original, em “Inevitável mais
desejos”: “Vida de escandir ondas nos vincos dos dedos / e ilíadas para a pele
/ Ser na berlinda entrepistas / de morenas taísas pitonissas: / o fúlgido
agouro tatuado, cada luz / de palavra rompendo nada o osso, / caldos de
mais-cores banhando / a pele-escorpião”. Ou no belo poema “Quando a luz
perfurar teus olhos”: “Anel do escuro do silêncio. / / Comprimirás as têmporas
pelas coxas. / / Nas pernas novelos se desfazendo serão / os últimos beijos da
anêmona. / / Adeus do sal do leite do mar. / / Hoje irás a um outro lugar de
todas as casas / azuis ou sóis e alvas. / / A eternidade lá vai. / / Na mão
nódoa última do tempo sem tempo”. No poema “Álulas longe, de chofre nas
costas”, Ricardo embaralha nomes relacionados sobretudo à música e à pintura,
remetendo à própria sonoridade e imagética da sua construção: “agora um
silêncio / repleto / hendrix / de jazz-gatilhos / repleto de jazzgatinhos –
como bolhas de cage / que nada / nunca / e matisse até os quarenta seria
desentendido / e picasso ah ser já sabido, vou”. Em seu novo livro, Barato,
ainda inédito, Ricardo volta a trabalhar com a linguagem do cotidiano,
desvirtuando-a, com a inserção de temas pedestres e cultos, numa mistura,
digamos, entre alta e baixa cultura, com resultados corrosivos. É no poema
“Suspeita”, de Desencantos mínimos, que ele faz uma síntese de sua poética: “-
Alucinações são o elemento / elmo / do ouro que reveste a veia / que a luz da
areia / é o a seguir, / vaga em breve, / e o devaneio?”.
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