quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Cinquenta, de Julio Urrutiaga Almada (Kötter, 2021)

 

Ao entrar neste 50, leitor(a), deixe de fora toda a desesperança. Aqui a existência é trabalhada no contraste da duração e da urgência. 50 recolhe as máquinas de moer carma do poeta, inabaladas pelo tempo. Reunir poemas no meio do caminho da vida é a possibilidade de perguntar: que poeta sou?, minha poesia o que é? Entregar-se a um poeta é sempre uma experiência não-parafraseável. Julio reúne o tempo, sendo tanto “o menos morto dos mortais” quanto o que sabe que “no underground/sempre há/um degrau/a mais”. Duração e urgência. Um poeta visionário, herdeiro dos Rimbauds e beatniks, claro, age sempre na escuridão, não por perdido mas por perdição. A urgência: “O amanhã é fábula/pressinta o presente sentido”, “uma noite que vença a vida”. A duração: “E nunca de fato/ter o tempo segurado/Umas vezes ele me prendia/nas outras me degolava”. Julio recolhe os paradoxos do tempo, religando-os em sua própria máquina do mundo, gritando a dor social e falando calado ao coração. Ao entrar neste 50, leitor(a), veja como os poemas longos exercitam o tempo transcorrido, como duram. E veja também como há uma voz atrás deles, num poeta de tigres embriagados, dilacerado pelos dias.

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